Quando nascemos, ainda não temos o recurso da fala desenvolvido, mas já escutamos e nos comunicamos de modo não verbal. É possível para os adultos identificar as sensações de prazer ou desconforto de um bebê por meio de seu riso, choro e expressões faciais. Já no 2o ou 3o mês de vida, podemos observar os primeiros sons produzidos pelo bebê, que chamamos de vocalizações, pois, em geral, são sons de vogais, sendo o “a” o que geralmente aparece primeiro. Também nesse período é comum observar as reações auditivas do bebê a sons mais intensos, como acordar, acelerar ou interromper a mamada e assustar-se ou piscar os olhos como resposta a sons de motocicleta, liquidificador ou telefone. Já diante de sons familiares, como a voz da mãe, o bebê pode acalmar-se e sorrir.
Esses comportamentos acontecem porque, embora a orelha humana já esteja formada desde o 5o mês gestacional, o cérebro do bebê precisa aprender a processar os sons e isso ocorre conforme ele vai tendo experiências auditivas. Assim, no início da vida fora do útero materno, é esperado que se assuste com alguns sons, que mais adiante serão assimilados e não trarão mais desconforto.
A partir do 3o ou 4o mês de vida, as crianças passam a ter um bom controle do pescoço, o que possibilita que comecem a virar a cabeça lateralmente à procura da fonte sonora.
Nesse momento também é comum observarmos gritos e mais vocalizações. Por volta do 5o ou 6o mês, também esperamos que o bebê esteja mais atento ao rosto do falante e aos objetos e acontecimentos do ambiente. Começam a aparecer nessa fase os sons de algumas consoantes na fala do bebê, como o /b/, /p/ e /m/ e, daí por diante, o balbucio ficará silábico, com a produção de consoante e vogal juntas e duplicadas, como “bababa”, “mamamama”, etc. É interessante lembrar que nesse momento do desenvolvimento, o bebê produz todos os sons possíveis de serem realizados nas línguas do mundo. Aqueles que são ouvidos com frequência passam a fazer parte do repertório linguístico da criança, enquanto aqueles que não são ouvidos, deixam de ser executados.
Entre o 7o e o 9o mês, o bebê começa a controlar mais seu balbucio, sendo comum observarmos nessa fase o início da troca de turno, ou seja, o bebê balbucia um pouco e depois para, aguardando que seu interlocutor fale, para que em seguida ele continue. Nessa fase, chamamos a fala do bebê de jargão, pois ainda não entendemos praticamente nenhum som produzido, mas a criança já faz o balbucio com uma entonação que se assemelha à fala do adulto.
Entre o 10o e o 12o mês de vida, a criança já demonstra compreender o significado de palavras familiares como “não” e “tchau”, inicialmente acompanhadas de gestos. Logo em seguida, será capaz de compreender e executar os comandos de dar tchau, jogar beijo e bater palmas, mesmo sem o modelo gestual dado pelo adulto. Também nessa fase, por volta do aniversário de 1 ano, as primeiras palavras são esperadas, como “mamã”, “papá”.
Agora, esses sons não são mais simples balbucios, mas se referem a pessoas e/ou objetos. Ainda pode ser confuso para os adultos reconhecerem se “papá” se refere ao papai ou ao
prato de comida, mas com a interação recebida de todos a sua volta, esse repertório vai se ampliando e ganhando significado. Até os 18 meses, espera-se que a criança tenha um vocabulário de aproximadamente 30 a 50 palavras funcionais, ou seja, estas palavras devem ser compreensíveis pelas pessoas que estão em contato com ela. A partir de então, as primeiras frases são esperadas, compostas por 2 ou 3 elementos, como “dá bola” ou “qué papá”. Também nesse período, espera-se que comece a compreender e responder a comandos verbais mais complexos, como “cadê a mamãe”, “cadê o pé”.
Entre os 2 e os 3 anos de idade, o vocabulário da criança se expande rapidamente, sendo esperado que ela tenha cerca de 300 palavras em seu repertório. Espera-se também que crianças nessa faixa etária compreendam e emitam frases simples e perguntem o nome e a função dos objetos (Ex: O que é isso?). A partir de 2 anos e meio, a compreensão dos verbos permite que a criança execute ações envolvendo até três conceitos como: “Coloque a boneca grande na cadeira”. As frases emitidas pela criança passam a contar com palavras mais longas nessa fase e também com mais elementos (geralmente até 4 palavras). De 2 anos e meio a 3 anos, observa-se que a criança começa a fazer uso de flexão de gênero e também a usar plurais em sua fala. Suas perguntas agora contam com advérbios como “onde, quando, quem” e ela quer saber o nome de tudo o que a cerca. Também passa a compreender conceitos de oposição como quente/frio, forte/fraco e grande/pequeno
Dos 3 aos 3 anos e meio, a criança já deve ter adquirido os sons /p/, /b/, /t/, /d/, /k/, /g/, /f/, /v/, /s/, /z/, /x/, /j/, /m/, /n/, /nh/ e /l/, este último em posição inicial e final da sílaba (ex: lápis e mal). Por volta de 3 anos e meio, aparece o som /R/ forte em início de sílaba, como na palavra rato e, aproximadamente aos 3 anos e 10 meses, a criança deve ser capaz de produzir o /r/ em final de sílaba, como ocorre nos verbos (ex: jogar, comer, andar). Nessa faixa etária, deve ser possível, para alguém que não está familiarizado com a criança, entender tudo o que ela diz, embora algumas dificuldades com as conjugações verbais ainda possam aparecer em sua fala. Espera-se ainda que ela compreenda quase tudo o que ouve e que tenha um vocabulário de cerca de 900 palavras.
Aos 4 anos, aparece na fala da criança o som /lh/ (ex: ilha) e o som /r/ fraco no início da sílaba (ex: barata). Nessa fase, sua linguagem se assemelha bastante à do adulto e quase todos os sons da fala devem estar sendo produzidos corretamente. Graças a isso, a criança dessa faixa etária é capaz de inventar histórias, compreender regras de jogos e histórias maiores, respondendo a perguntas simples sobre as mesmas.
Finalmente, aos 5 anos, espera-se que a criança produza os sons /r/ e /l/ em posição de encontro consonantal (ex: prato/planta), que são os últimos a serem adquiridos. Dessa forma, sua fala, nesse momento, deve ser fluente, organizada e completa, utilizando-se de todos os elementos necessários para estabelecer uma boa comunicação. A criança, nessa fase, tem um vocabulário emissivo de aproximadamente 1700 palavras, mas compreende cerca de 2700 palavras, o que lhe possibilita descrever acontecimentos passados, relatar histórias e compreender sem dificuldades as atividades propostas.
Se algo nesse processo não está ocorrendo da forma esperada, é importante ficarmos atentos, redobrarmos os estímulos e procurar ajuda, caso seja necessário. Vários fatores podem prejudicar o desenvolvimento da linguagem, como problemas auditivos, emocionais e cognitivos. Quanto antes identificados, maiores são as chances de sucesso em contorná-los. O fonoaudiólogo é o profissional especializado em linguagem, que exerce seu trabalho não apenas em consultórios e clínicas, mas também na escola, com um olhar preventivo. A Escola Meu Castelinho conta com esse olhar atento de uma profissional especializada em Fonoaudiologia Educacional. Por isso, em caso de dúvida sobre o desenvolvimento de linguagem de seu filho ou aluno, fique à vontade para nos procurar. O trabalho em parceria entre família, escola e profissionais especializados é o melhor caminho para ajudarmos nossos pequenos a conquistarem não apenas a linguagem, mas o mundo!
Taís Ciboto – Fonoaudióloga – CRFa 2 – 10366
Graduação em Fonoaudiologia pela UNIFESP. Pós-Graduação em Psicopedagogia.
Especialista em Fonoaudiologia Educacional. Mestre em Educação pela USP.
Fonoaudióloga da Escola Meu Castelinho.