No início da vida as crianças descobrem o mundo físico e social através dos reflexos e passam a interagir com a mãe ou outros adultos a fim de satisfazer suas necessidades básicas.
Gradativamente as ações motoras e o raciocínio se desenvolvem e as crianças passam a interagir com objetos e pessoas em um processo de experimentação ativa, permeada pela curiosidade e pela impulsividade, característica da tenra idade.
O egocentrismo, inconsciente e espontâneo, impera durante a primeira infância, portanto as crianças enxergam a realidade e lidam com ela de acordo com uma única perspectiva, a dela própria.
Assim é difícil compreender que o amigo também quer o mesmo brinquedo e aceitar compartilhar.
Como a linguagem está em desenvolvimento, é natural que a comunicação de seus interesses e vontades aconteça por meio de sons e ações impulsivas com todo o corpo.
Assim as crianças passam a elaborar recursos de interação, ainda considerados primitivos, como mordidas, puxões e empurrões, na medida em que descobrem as próprias possibilidades diante do meio físico e social.
Nesse percurso, repleto de aprendizagem, elas estão descobrindo o mundo e algumas noções de certo e errado, mas inicialmente, durante os primeiros anos de vida, ainda são incapazes de julgar as próprias ações e as alheias, desconhecem intenções e consequências.
Esse período representa o início do desenvolvimento da autonomia, em que ordens e prontidões são obedecidas pelo respeito à autoridade, portanto adultos são os modelos e os mediadores entre as crianças e o mundo ao redor.
Nesse contexto é essencial que as crianças tenham liberdade para interagir, testar o meio e perceber os limites coerentes às ações de maneira concreta.
A partir da mediação dos educadores (escola e família), as crianças podem gradativamente descentrar-se, perceber que existem outros, com interesses, sentimentos e intenções singulares. Na relação com as pessoas descobrem os limites, a partir da observação das reações decorrentes das próprias ações. A partir daí podem ser incentivadas a pensar sobre a necessidade e variadas formas de reparação.
Ao considerar que crianças pequenas estão em fase de ensaios, é natural que testem os limites e oponham-se às orientações dos adultos e aos combinados – regras conversadas e estabelecidas com alguma participação das crianças – para que se envolvam e sintam-se capazes de analisar ações e consequências.
Nessas situações é fundamental que os adultos mediadores
mostrem às crianças limites concretos e apresentem sanções por reciprocidade*, para que aprendam a responsabilizar-se pelas consequências das próprias ações, atitudes e escolhas.
Essas situações em que as crianças desafiam os limites, considerada por muitos como “problemas”, podem representar oportunidades de aprendizagem, para o desenvolvimento da responsabilidade e a vivência de valores. Na medida em que as crianças aprendem a lidar com desafios, desenvolvem recursos assertivos de interação e são estimuladas a criar soluções para as questões visando o bem comum.
Andrea Caram de Oliveira
Orientadora Educacional
*sanções por reciprocidade é um termo criado por Jean Piaget, em contrapartida às sanções expiatórias (castigos), pois oferecem às crianças a possibilidade de estabelecer relações entre ação e os efeitos correspondentes, na medida em há um sentido lógico entre as atitudes e as consequências.