Qual o melhor momento para sair das fraldas?

À medida que crescem e amadurecem, as crianças podem começar a assumir a primeira grande responsabilidade de suas vidas: fazer xixi e cocô no vaso. Embora pareça simples para nós, adultos, começar a usar o banheiro representa para os pequenos, além de um treino de independência, a necessidade de incorporar um novo hábito na rotina… Afinal, para eles, não é fácil parar de brincar para ir ao banheiro!

Esse processo envolve diversas questões emocionais, neurológicas e fisiológicas, por isso é preciso cautela antes de propor esse desafio, afinal acreditamos que cada criança tem o seu tempo e alguns sinais são importantes.

A Orientação Educacional da Escola Meu Castelinho⠀sempre sugere às famílias que observem atentamente alguns aspectos, que podem auxiliar nessa decisão:

  • A fralda incomoda?
  • A criança costuma avisar quando faz cocô ou quando a fralda está cheia? Diferencia urina de fezes?
  • A fralda costuma ficar seca por intervalos de 2 horas aproximadamente?
  • Evacua em horários regulares?
  • Demonstra iniciativa para cuidar de si e dos próprios pertences? 
  • Tem pequenas responsabilidades em casa (como guardar os brinquedos, colocar a roupa suja no cesto, etc.)?
  • Consegue abaixar e levantar a calça?
  • Comunica-se de forma clara para satisfazer suas necessidades?
  • Demonstra interesse em observar outras pessoas da família usando o banheiro?

Entendemos que as crianças precisam estar preparadas para sair das fraldas, mas também devem querer crescer e usar o banheiro, como os adultos e crianças maiores que conhece. Elas precisam ser ativas e protagonistas de seu próprio percurso de desenvolvimento, envolver-se com o processo e tentar praticar os procedimentos para o uso do banheiro, de forma natural durante o cotidiano.

Acreditamos que o  papel dos adultos não deve ser “treinar” as crianças, porque se elas estiverem prontas e desejarem, aprenderão a usar o banheiro e sairão das fraldas sem necessitar de condicionamentos que definem horários e recompensas para fazerem suas necessidades no vaso.

Além disso, estudos mostram que propor um treinamento para as crianças pode tirar-lhes oportunidades importantes para seu desenvolvimento, conforme Judit Falk, pediatra e pesquisadora da abordagem Pikler, ressalta em seu livro  Educar nos três primeiros anos

Pode ter um preço muito alto que o adulto, independentemente do desejo e interesse da criança, exija que ela faça as suas necessidades no penico ou privada, desde a idade que, na sua opinião, é apropriada e nos momentos que ele determine. 

Com isso elimina na criança a possibilidade de reconhecer por si mesma o que acontece no seu corpo e de tomar consciência da sua capacidade de controle voluntário de seus esfíncteres no seu nível de maturidade neuromuscular, psicomotora e psicossocial.

Nessa perspectiva, então qual é o papel dos adultos?

Os adultos devem observar os indícios que as crianças apresentam e apoiar seus percursos de desenvolvimento, respeitando singularidades, oferecendo oportunidades para que experimentem  de forma espontânea o uso do banheiro, e pratiquem a autonomia nesses momentos e em  outras situações cotidianas.

Como podemos incentivar as crianças a usar o banheiro?

O incentivo pode começar antes das crianças estarem preparadas para saírem das fraldas.

Nos momentos de cuidados diários podemos começar a estimular o desenvolvimento de capacidades e competências desde muito cedo.

Estabelecer um diálogo a espera de respostas, durante os momentos de cuidados, fortalecerem os vínculos entre as crianças e seus pais ou cuidadores e contribuem para o desenvolvimento da autopercepção e da autonomia.

Nos momentos de banho e trocas, quando nomeamos as partes que tocamos, as crianças começam a perceber que seu corpo é formado por partes, que lhe oferecem diferentes sensações. Elas gradativamente desenvolvem a percepção de si e aprendem a nomeá-las, na medida em que sua linguagem também se desenvolve.

Podemos também nomear o que elas produzem: o xixi e o cocô.

Agora vou abrir a sua fralda para limpar o cocô

Avisar o que vamos fazer com o corpo da criança revela respeito por ela e convida a participação ativa. Você pode iniciar o diálogo com as crianças de diversas formas:

  • Estou percebendo que sua fralda está com cocô, vamos trocar depois que terminar essa brincadeira?
  • Vou abrir a sua fralda.
  • Vou limpar você agora. Você pode levantar as pernas?
  • Você pode levantar os braços para que eu possa colocar a blusa em você? Obrigada!
  • Você pode me ajudar no banho? Qual parte do seu corpo você quer lavar hoje?

A partir de um ano e meio podemos começar as trocas em pé, especialmente no caso do xixi. Assim a criança terá mais mobilidade para contribuir de forma ativa nesses momentos, levantando as pernas e abaixando as calças, por exemplo. 

As trocas podem ser realizadas no banheiro, o que facilitará o acesso ao vaso ou penico, que podem ser oferecidos de modo natural nesses momentos. Você pode fazer observações sobre a fralda e ampliar a autopercepção da criança:

Veja , sua fralda está praticamente seca. Isso mostra que o xixi ainda está aí. Quer fazer no vaso?”

 

Nessa fase, precisamos preparar o ambiente para oferecer mais segurança e conforto, providenciando um adaptador para o vaso e um banquinho firme, para que ela possa apoiar os pés quando estiver sentada.

Se perceber o interesse da criança em experimentar e também que ela apresenta outros indícios de que está pronta (verifique alguns no artigo Qual o melhor momento para sair das fraldas?), amplie as oportunidades para o uso do vaso sanitário, convidando-a para ir junto ao banheiro junto com os pais ou irmãos:

Estou com vontade de ir ao banheiro. Você quer ir comigo? Quer fazer xixi? Está com vontade?”

A partir dos nossos questionamentos, as crianças têm oportunidades de prestar atenção ao próprio corpo, observar o modelo da mãe, do pai ou dos irmãos e ,é claro, aprender a usar o vaso sanitário, bem como os procedimentos de higiene, como apertar a descarga e lavar as mãos.

Para os meninos, os modelos masculinos também poderão ensinar procedimentos específicos relacionados à posição e cuidados, pois na nossa cultura os homens urinam de modo diferente das mulheres e esse aprendizado pode inseri-los nesse processo social que envolve o desenvolvimento. 

No Meu Castelinho, acreditamos  que a parceria entre pais e escola pode contribuir de maneira significativa com o percurso de desenvolvimento de cada criança, por isso promovemos encontros regulares com os pais para conversar sobre tudo que envolve a atmosfera comportamental das crianças, inclusive o desfralde. 

A Orientação Educacional do Meu Castelinho organizou um bate papo com as famílias, para orientar os pais sobre o processo, como eles podem  identificar o melhor momento para incentivar as crianças a superarem esse desafio, e de que maneira contribuir de modo respeitoso com esse percurso de desenvolvimento.  ⠀⠀

Assista o vídeo da reunião com as orientações da psicóloga e orientadora educacional da escola Andrea C. de Oliveira

Escola Meu Castelinho

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